Reportagem inédita no Acre traça perfil de adolescentes do sexo masculino que se prostituem pelas ruas das cidades do Vale do Juruá, geralmente sem o conhecimento das famílias. Informações preliminares revelam que oito rapazes fazem ponto no centro de Cruzeiro do Sul, cinco outros preferem a Avenida 25 de Agosto, e quatro “trabalham” no Bairro da Cohab. Mais cinco adolescentes estariam se prostituindo também em Mancio Lima, um em Rodrigues Alves e cerca de uma dezena no Guajará-AM.
POR DILSON ORNELASO grupo do centro de Cruzeiro do Sul é formado por jovens entre 15 e 18 anos. A maior parte freqüenta o ensino médio, e cobra entre R$ 80,00 e R$ 200,00 pelas relações sexuais ou por suas variações. Seus clientes, na maioria dos casos, são casados e tem entre 30 e 50 anos. De acordo com os entrevistados, são procurados por profissionais de diferentes segmentos, como empresários, professores, políticos e até por gente que trabalha em Comunicação.
“Tem um jornalista de rádio que sempre nos procura, e até mesmo um vereador sai com a gente”, revela S., de 16 anos sem, contudo, citar nomes. Ele também não especificou se o vereador a que se referia exerce mandato atualmente ou exerceu a vereança em legislaturas anteriores.
Dois parlamentares municipais foram procurados pela reportagem para comentar o assunto, mas preferiram não gravar declarações. Disseram, porém, que os jovens “devem estar mentindo”, porque “todos os vereadores atuais são pessoas sérias e nenhum tem o perfil compatível com atitudes desse tipo”, garantiu um deles.
CRIME E CASTIGO
Ao tomar conhecimento das informações sobre a prática de prostituição com menores no Vale do Juruá, o promotor da Infância e da Adolescência de Cruzeiro do Sul, Ildon Maximiano, lembrou que quem comete relações sexuais com menores de 18 anos pratica crime e pode ser penalizado com até 10 anos de prisão.
Segundo ele, “infelizmente algumas pessoas tratam esses e outros casos como se fossem parte de uma cultura de um problema menor, desses que se jogam para debaixo do tapete porque há muito tempo estaria acontecendo por aqui”.
Para o promotor, “as pessoas acham que as leis foram feitas apenas para lugares como Rio e São Paulo. Isso equivaleria dizer que nós seríamos de menor importância, ou seja, se nós toleramos o relacionamento sexual com menores, é o mesmo que dizer que os adolescentes daqui tem menos direitos do que os adolescentes do Rio e de São Paulo, o que não é verdade. É o típico complexo de vira-lata”.

DESINFORMAÇÃO X SEGURANÇA
Os três adolescentes abordados na rua disseram que nunca foram visitados por membros do Conselho Tutelar e tampouco por servidores da Secretaria de Saúde. A proteção é feita com preservativos e com as orientações das palestras do Centro de Referência de Assistência Social nas escolas que freqüentam.
“Essas palestras ajudam muito a gente”, disse S., que afirma desconhecer casos de AIDS ou mesmo de outras doenças sexualmente transmissíveis em Cruzeiro do Sul.
Embora nunca tenham sofrido ataques homofóbicos, os adolescentes andam em grupos, o que facilita a prevenção à atitudes agressivas de terceiros.
PRÁTICAS SEXUAIS
S. explica que nem sempre os homossexuais são procurados para fazer o papel de passivos na relação. “Tem homem que prefere pagar mais caro para ser ele o passivo. Então a gente inverte o jogo, a gente não gosta muito disso não, mas como ele está pagando a gente faz”, conta o menor.
Nos finais de semana, cada rapaz chega a se relacionar até sete vezes. S. diz que esse tipo de vida não é o que deseja para o seu futuro. “A gente acaba enjoando, além disso é uma vida muito cansativa”, admite.
SITUAÇÃO FINANCEIRA ADVERSA
Outro menor, A., também de 16 anos, conta que resolveu assumir publicamente que era gay aos 15 anos, mas perdeu a virgindade aos 13.
“Com 15 anos mesmo decidi ganhar a vida nas ruas porque a condição financeira da minha família é muito precária. Sempre que posso ajudo a eles”, conta A.
Ele se prepara para fazer o Enem para Biologia, um sonho antigo, e diz que é capaz de parar de vender o corpo se sua família descobrir tudo.
Enquanto isso não acontece, vai continuar a se prostituir porque precisa de dinheiro para alcançar um objetivo “muito pessoal”, pessoal demais para ser revelado ao repórter.
fonte:http://www.vozdoacre.com/portal/11/reportagem-mostra-raio-x-da-prostituicao-de-adolescentes-no-vale-do-jurua/




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