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Raio-X mostra prostituição de adolescentes no Juruá

sábado, 10 de dezembro de 2011
Tiago Valente

Reportagem inédita no Acre traça perfil de adolescentes do sexo masculino que se prostituem pelas ruas das cidades do Vale do Juruá, geralmente sem o conhecimento das famílias.  Informações preliminares revelam que oito rapazes fazem ponto no centro de Cruzeiro do Sul, cinco outros preferem a Avenida 25 de Agosto, e quatro “trabalham” no Bairro da Cohab. Mais cinco adolescentes estariam se prostituindo também em Mancio Lima, um em Rodrigues Alves e cerca de uma dezena no Guajará-AM.

 POR DILSON ORNELAS
O grupo do centro de Cruzeiro do Sul é formado por jovens entre 15 e 18 anos. A maior parte freqüenta o ensino médio, e cobra entre R$ 80,00 e R$ 200,00 pelas relações sexuais ou por suas variações. Seus clientes, na maioria dos casos, são casados e tem entre 30 e 50 anos. De acordo com os entrevistados,  são procurados por profissionais de diferentes segmentos, como empresários, professores, políticos e até por gente que trabalha em Comunicação.
“Tem um jornalista de rádio que sempre nos procura, e até mesmo um vereador sai com a gente”, revela S., de 16 anos sem, contudo, citar nomes. Ele também não especificou se o vereador a que se referia exerce mandato atualmente ou exerceu a vereança em legislaturas anteriores.
Dois parlamentares municipais foram procurados pela reportagem para comentar o assunto, mas preferiram não gravar declarações. Disseram, porém, que os jovens “devem estar mentindo”, porque “todos os vereadores atuais são pessoas sérias e nenhum tem o perfil compatível com atitudes desse tipo”, garantiu um deles.
CRIME E CASTIGO
Ao tomar conhecimento das informações sobre a prática de prostituição com menores no Vale do Juruá, o promotor da Infância e da Adolescência de Cruzeiro do Sul, Ildon Maximiano, lembrou que quem comete relações sexuais com menores de 18 anos pratica crime e pode ser penalizado com até 10 anos de prisão.
Segundo ele, “infelizmente algumas pessoas tratam esses e outros casos como se fossem parte de uma cultura de um problema menor, desses que se jogam para debaixo do tapete porque há muito tempo estaria acontecendo por aqui”.
Para o promotor, “as pessoas acham que as leis foram feitas apenas para lugares como Rio e São Paulo. Isso equivaleria dizer que nós seríamos de menor importância, ou seja, se nós toleramos o relacionamento sexual com menores, é o mesmo que dizer que os adolescentes daqui tem menos direitos do que os adolescentes do Rio e de São Paulo, o que não é verdade. É o típico complexo de vira-lata”.

DESINFORMAÇÃO X SEGURANÇA
Os três adolescentes abordados na rua disseram que nunca foram visitados por membros do Conselho Tutelar e tampouco por servidores da Secretaria de Saúde. A proteção é feita com preservativos e com as orientações das palestras do Centro de Referência de Assistência Social nas escolas que freqüentam.
“Essas palestras ajudam muito a gente”, disse S., que afirma desconhecer casos de AIDS ou mesmo de outras doenças sexualmente transmissíveis em Cruzeiro do Sul.
Embora nunca tenham sofrido ataques homofóbicos, os adolescentes andam em grupos, o que facilita a prevenção à atitudes agressivas de terceiros.
PRÁTICAS SEXUAIS
S. explica que nem sempre os homossexuais são procurados para fazer o papel de passivos na relação. “Tem homem que prefere pagar mais caro para ser ele o passivo. Então a gente inverte o jogo, a gente não gosta muito disso não, mas como ele está pagando a gente faz”, conta o menor.
Nos finais de semana, cada rapaz chega a se relacionar até sete vezes. S. diz que esse tipo de vida não é o que deseja para o seu futuro. “A gente acaba enjoando, além disso é uma vida muito cansativa”, admite.

SITUAÇÃO FINANCEIRA ADVERSA
Outro menor, A., também de 16 anos, conta que resolveu assumir publicamente que era gay aos 15 anos, mas perdeu a virgindade aos 13.
“Com 15 anos mesmo decidi ganhar a vida nas ruas porque a condição financeira da minha família é muito precária. Sempre que posso ajudo a eles”, conta A.
Ele se prepara para fazer o Enem para Biologia, um sonho antigo, e diz que é capaz de parar de vender o corpo se sua família descobrir tudo.
Enquanto isso não acontece, vai continuar a se prostituir  porque precisa de dinheiro para alcançar um objetivo “muito pessoal”, pessoal demais para ser revelado ao repórter.

fonte:http://www.vozdoacre.com/portal/11/reportagem-mostra-raio-x-da-prostituicao-de-adolescentes-no-vale-do-jurua/

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